VOCÊ É MINHA VIDA

Um carro sai cedo de Roma. Ao volante, um renomado diretor de cinema. No banco ao lado, o homem que há muitos anos ama com um amor sem medidas. Para onde vão? Enquanto a cidade fica para trás e a estrada começa um sinuoso percurso entre bosques, o diretor decide narrar ao silencioso companheiro o seu mundo antes dele”: A minha vida é a sua e agora vou lhe contar, porque amanhã será somente nossa”. Inicia assim uma viagem no tempo, para trás e para frente: os primeiros anos na Itália, onde chegou da Turquia ainda menor de idade com o sonho de estudar e fazer cinema, as pessoas que o marcaram, os amigos, os amores, as esperanças, as desilusões, os sucessos. Histórias que conduzem a outras histórias, permeadas por personagens inesquecíveis e bizarros: uma trans egocêntrica entrando na terceira idade, um príncipe cleptomaníaco, uma telefonista que queria ser atriz, uma caixa traída pelas conjunções astrais, uma linda garota com um espírito inquieto. E ainda, intelectuais refinados, românticas incorrigíveis, famosos cinéfilos, amantes rejeitados e mães nada banais. De fundo, o prédio da Via Ostiense onde tudo acontece, via sacra de diferentes solitudes, mas também de amizades intensas e paixões avassaladoras. O prédio que se transformou com o passar dos anos, conservando todavia intactos os seus mais íntimos segredos. E, sobretudo, a cidade de Roma, como ninguém nunca a contou. Os anos Setenta e Oitenta e a contagiosa atmosfera de liberdade sem freios, os longos verões marcados pela transgressão, o feminismo, a progressiva tomada de consciência de si mesma da comunidade gay, a Aids, a solidariedade que solidifica os laços, os encontros fulgurantes com alguns protagonistas do cinema italiano, as estações, os lugares e as vozes de um passado que já se perdeu para sempre. Tantas histórias, hilárias porém comoventes, que compõem a História” de uma existência que se anula numa outra como extrema dádiva de amor. Um Amor que não se entrega, um sentimento absoluto capaz de resistir a qualquer prova. Com um olhar irresistível, leve e tocante ao mesmo tempo no seu segundo livro Ferzan Ozpetek, o diretor que como nenhum outro sabe falar de sentimentos, revela um mundo suspenso entre lágrimas e risadas, ficção e realidade, até o epílogo, comovente e inesperado. Um mundo que parece ser feito da mesma matéria dos seus filmes. E que, página após página, fere e encanta. Justamente como a vida.