Sinopse
A literatura, para Alberto Lins Caldas, é um jogo de tensões, uma elucubração entre narradores e leitores, entre a melhor palavra e a melhor atenção. Não se trata das tensões dicotômicas, das lutas exangues entre o bem e o mal, do mundo polar que nos sufoca e não nos conduz ao outro. Não. A literatura de Caldas arde sem se ver para conhecer o sonho, especula alto para promover o olhar de dentro, perambula, rumina a dança dos mais antigos contadores de histórias. Samsara (ou noturno em dó menor) apresenta uma teia de interrogações, de devaneios, de contatos interiores. Uma corda delicada puxa o leitor para abismos e luminosidades, um passeio estranho por rosas e espinhos. Cabe-nos subir a bordo, sem medo do experimento, da densidade, desapego de formas, tramas e normas. Lins abriga doze capítulos de profundezas interiores, em que se mistifica por temas da vida e da morte, disso de conversar e viver: você alguma vez tentou assim pegar sua alma?. Samsara... clama ao leitor que aceite o chamado para a jornada. Não se trata de um convite ao leitor de um livro só, mas àquele que aprecia o experimento, o risco, as cores difusas, o diferente. Se poder sonhar já é muito e já é tanto que se abrir agora os olhos como saber se os olhos estão abertos ou fechados?, temos, pela via da literatura, essa imaginação expandida, Caldas como um argonauta de águas desconhecidas. [Por Daniel Zanella]