Sinopse
Aqui se procura espreitar o acaso e o fado, que já preocupavam o rei astrólogo pai de Segismundo, em Lá vida es sueño, de Calderón: "porque el hombre/ predomina en las estrellas"(Ato II, cena I). Trago o clássico espanhol também para celebrar a lira nascente de um hispano-brasileiro, algo menos comum do que deveria entre nós. A própósito, em Márcio Gómez Benito o dado biográfico se entremostra, às vezes de forma mais dolorida - mas sempre com um sentimento de graça, como no belo soneto de memória do pai. É um poeta da linhagem perdida dos humoristas, dos ridentes, de Cesário Verde a Juó Bananère, com o toque do franco-uruguaio Jules Laforgue, de quem Benito nos prepara uma tradução. Vem daí o gosto pelo circunlóquio, pelo poema dialogado, mas também pela canção literária e pela oralidade. Um poeta que escreve Ponte Vítrea - veja o leitor - aprendeu com forças antagônicas e soube se equilibrar entre elas, o que faz desta estreia algo invulgar e, para mim que o acompanhei, particularmente feliz. (Wladimir Saldanha)