O DIABO VESTIA AZUL

Em 'O diabo vestia azul', somos apresentados ao outro lado da glamourosa Los Angeles da década de 40 e a um dos mais carismáticos detetives criados pela literatura policial contemporânea: o ex-combatente da Segunda Guerra e ex-operário Easy Rawlins, que, desencantado como muitos dos seus conterrâneos negros, migrou do interior dos Estados Unidos para a Califórnia em busca de uma vida melhor. Por absoluta falta de dinheiro ou, muitas vezes, para prestar um ou outro favor a amigos, ele acaba involuntariamente se transformando em detetive. Negro, morador de um bairro pobre onde trabalhadores e trambiqueiros convivem em relativa harmonia, Easy freqüenta os esfumaçados clubes de jazz e bares locais. Violento, melancólico, sensual e inquieto, esse "herói" está sempre a um passo da criminalidade, perguntando-se por que a lei parece estar sempre contra aqueles que não tiveram a sorte de nascer brancos. Muitas vezes comparado a Raymond Chandler e a Chester Himes, Mosley tem no entanto uma ligação muito mais forte com a linguagem e os costumes da rua. Além da narrativa eletrizante, dos brilhantes insights psicológicos e dos diálogos que dão bem a medida da tensão entre brancos e negros, 'O diabo vestia azul' traz, de quebra, uma loira fenomenal que nem o leitor nem Easy sabem quem é, mas que não deixa ninguém sossegado enquanto não revela o seu surpreendente segredo.