NO FIO DA NAVALHA

A malandragem está caracterizada no inconsciente coletivo como um conjunto de artimanhas usadas para obter vantagens em determinadas situações. Interessada em entender como esse conceito do malandro se formou no imaginário popular e por que está tão caracterizado como traço marcante da cultura brasileira, que a jornalista Giovanna Dealtry lança, pela editora Casa da Palavra, o livro No fio da navalha – Malandragem na literatura e no samba. Adaptada da tese de doutorado da autora, O livro No fio da navalha propõe uma nova visão da malandragem através da figura do malandro que é encontrada no samba, como nas letras de Noel Rosa, Heitor dos Prazeres, Wilson Batista etc e na literatura, como nos texto de Antônio Fraga, Martins Pena, João do Rio etc. Sem descartar completamente os conceitos clássicos, o livro sugere um rompimento com o estigma de que todo malandro é “preto, pobre e sambista”, e que essas características da malandragem podem estar presentes em vários segmentos da sociedade, até na religião, como é o caso de Exu e Zé Pilintra na Umbanda. Giovanna Dealtry vai além do estereótipo do malandro que usa terno de linho branco, chapéu panamá, sapato bicolor, navalha no bolso e, principalmente, que leva uma vida boêmia e não tem vocação para o trabalho. A autora afirma que, a mesma sociedade que o condena, também o acolhe e o valoriza como “estrategista, capaz de valer-se do anonimato, do discurso inesperado, da antecipação ao outro para garantir o ganho pessoal”. Com um texto leve e simpático, No fio da navalha leva-nos a uma revisão de uma ideia geralmente depreciativa e faz-nos pensar até mesmo sobre o malandro que há em cada um de nós.