Sinopse
"A ANALOGIA E TENTADORA: UM BOM entrevistador como um bom juiz de futebol. Quanto menos ele aparecer, melhor. Sua função é fazer o entrevistado falar, o jogo andar, com um mínimo de intervenções e o máximo de neutralidade. A analogia é aproveitável mas não é exata. Tome-se o caso do autor destas entrevistas, Fernando Eichenberg. Em nenhum momento ele interfere numa entrevista como um juiz espalhafatoso querendo atrair a atenção do público para si. Mas e difícil imaginar alguém sem o seu conhecimento, o seu grau de informação e o seu instinto jornalístico fazendo entrevistas deste nível. A discrição é a menor das suas virtudes. Não se trata apenas de saber o que perguntar. Trata-se de entender as coordenadas culturais e a relevância, para o nosso entendimento do que estão pensando na Europa ou para nossa memória afetiva, de gente como o Jean Baudrillard e o Paul Virilio e gente como o Jean-Luc Godard e o Henri Salvador. Muitas vezes os preâmbulos das entrevistas servem como pequenos ensaios didáticos sobre os entrevistados -mas nada que solenize demais o puro prazer do que vira, as idéias bem postas e a inteligência bem articulada de personalidades fascinantes. O Fernando Eichenberg, Dinho para os amigos, escreve em Paris, onde é um companheiro constante de futebol do Chico Buarque. Uma vez nos levou, nos e o Chico, a um restaurante italiano de Paris tão lamentável que nunca mais o perdoei, apesar de suas repetidas tentativas de se redimir. Acho que vou parar com a brincadeira. Depois de nos servir este inigualável repasto intelectual o Dinho esta pra lá de redimido." Luis Fernando Veríssimo